De Fã à Roteirista | Alexandre Aleixo
Publicado em 3 de dezembro de 2021Eu gosto de pensar que a gente começa qualquer carreira sendo fã do que se quer fazer. Hoje com 26 anos e pouca experiência, eu me encontro em um lugar que considero ser o melhor que meus sonhos poderiam imaginar, a melhor faculdade de todas até então, o mercado de trabalho.
Já de muito pequeno, e vamos deixar a minha pouca altura de lado, eu me interesso por histórias. Tudo começou em 2001 quando meus pais me levaram para assistir o filme de um menino de óculos com uma cicatriz de raio na testa e uma varinha mágica. Ali me apaixonei por aquela fábrica de contar histórias chamada cinema. Desde então eu adorava “viajar” nos filmes e posteriormente livros e HQs que me entregavam para ver e ler.
Antes que você pense que esta é a história triste de um moleque que passou a infância no sofá da sala ao invés de sair para correr na rua com os amigos, saiba que eu fazia todas essas coisas de criança também, mas o que eu gostava mesmo era de abrir um livro de fantasia ou ligar a televisão para assistir aos desenhos. Era natural que como fã eu fosse me interessar por saber quem eram as pessoas por trás de tudo o que eu gostava e sonhei em trabalhar com o que eles trabalhavam; Masami Kurumada, Akira Toriyama, Stan Lee, J.K Rowling, Mauricio de Souza, J.R.R.Tolkien. Depois no colégio veio Machado de Assis entre outros. Eu queria criar histórias assim como estas pessoas e passei a estudar para isso.
Minha experiência na Social Comics precisava desse background, pois como eu disse começamos sendo fãs e quando se cruza essa linha para o roteiro você entende o quanto a tal fábrica é um meio muito difícil de acesso, em especial no Brasil para um jovem negro que sou, todavia infinitamente mais prazeroso de se trabalhar do que somente consumi-lo como um fã faz.
Acredito que todas as pessoas que trabalham com a arte no geral sempre se fazem a mesma pergunta “Dá para viver disso?” É um questionamento cruel que nos faz perder muitos artistas, mas quando me confrontei com essa questão a única coisa que me veio à cabeça foram os anos de infelicidade que eu teria em outra carreira. Claro que romantizar um sonho em detrimento da realidade é loucura, mas se fosse para ser fácil seria tedioso e de pouco mérito e na minha humilde opinião, só os que se propõem a enfrentar o absurdo que é o constante desincentivo da nossa classe são os que chegam a algum lugar de verdade.
Com isso vamos a Wardogs e o que este universo significa para mim. Quando fui convidado para ajudar no projeto, de cara percebi que se tratava de uma chance única e não só para mim. Acima das minhas capacidades? Nem pensar, embora longe de estar no nível que quero chegar, vide as minhas referências, tenho absoluta certeza de que o frio na barriga que senti era somente a expectativa de mostrar que eu era capaz. Eu lá sabia montar um roteiro de quadrinho? Repito, aprendi na melhor faculdade até então e ainda assim me vem aquele friozinho de ansiedade e medo que eu adoro enfrentar, pois não existe sensação melhor do que ver meus personagens tomando vida nos mundos que eu criei para eles. Hoje mesmo, vi algo que saiu da minha cabeça se transformar em um quadrinho que as pessoas vão ler e poder dizer se amaram ou se odiaram. Um ponto importante que percebi é que as críticas são na verdade combustível, basta você entender que quem deve ficar realmente satisfeito com o trabalho, se bem executado, ficará satisfeito, falo de você leitor que sonha em ser um roteirista.
Encarando meu trabalho como missão eu escrevo este texto na fé de que será útil a alguém, assim como escrevi minhas primeiras HQs com dois pensamentos fixos na cabeça: o primeiro, contribuir para um projeto inédito que pode abrir muitas portas para mim e para outros colegas, e o segundo, com a total consciência de que estou em constante evolução, o que significa que no futuro vou olhar para Wardogs e afirmar que fiz o melhor para o meu eu de pouca experiência e muita vontade.
Falando em experiência, parte do meu sonho como profissional é contribuir para a construção de um mercado de trabalho mais robusto onde o absurdo a que me referi seja menos absurdo. Desde que entrei para a Social Comics, conheci pessoas com a mesma missão. Parece que aqui o amor pelo storytelling vem unindo gente com objetivos que convergem e muito com os meus ideais. Romantizar o sonho em detrimento da realidade é mesmo loucura, mas a realidade é essa de fato, nós vamos dominar o mundo.